A partir de janeiro de 2018, o Brasil passou a facilitar a emissão de visto de turismo para cidadãos da Austrália, Canadá, Japão e Estados Unidos através da internet, com o intuito de atrair mais turistas para o país. Isto porque, embora o Brasil seja um país continental, com atrativos para todos os gostos, como praias paradisíacas, centros históricos de tirar o fôlego e uma gastronomia tão diversa, não consegue atrair turistas. O turismo no Brasil vai à contramão do mundo, que está, cada vez mais, viajando.
Segundo relatório do World Travel & Tourism Council (WTTC) de 2016, o turismo cresce mais do que a economia global há cinco anos consecutivos, principalmente nas nações em desenvolvimento. No entanto, o turismo no Brasil não acompanha este movimento, uma vez que permanecemos na casa dos cinco milhões de turistas internacionais entre 1998 e 2012 – levamos mais de uma década para aumentar em 700 mil o número de visitantes de fora.
Os números da América do Sul, como um todo, dão a dimensão da lentidão que o Brasil enfrente na atração de turistas: no mesmo período, o aumento foi de 80,26% na região e a média anual foi de 57,7%.
O país não está nem entre os 40 mais visitados do mundo, mesmo sendo uma das nações mais ricas no planeta em patrimônios naturais e biodiversidade. Perdemos para países como Tunísia e Bulgária, ou ainda para cidades, como, por exemplo, Miami, que recebe, anualmente, sete milhões de turistas. O próprio Coliseu, famoso monumento em Roma, recebe quase o mesmo número de turistas que o Brasil inteiro – 4 milhões por ano.
A África do Sul atingiu recentemente 10 milhões de turistas por ano. A Tailândia, 28 milhões. O México, 30 milhões. O Peru, vizinho do Brasil, alcançou um crescimento de 340% no número de turistas nos últimos 15 anos, saltando de 800 mil para 3,5 milhões.
O turismo no Brasil possui enorme potencial, graças às suas riquezas naturais e culturais. No entanto, não recebe turistas internacionais. Por quê?
Por que ninguém viaja para o Brasil?
O potencial do turismo no Brasil é imenso, mas limitado por diversos fatores, como, por exemplo, segurança, infraestrutura, mão de obra, burocracia, investimento pífio em divulgação do país no exterior, falta de planejamento, uso político, pouca importância dada à pasta no setor e altos custos.
Segundo o documento The Travel & Tourism Competitiveness Report 2017 do Fórum Econômico Mundial (WEF), o Brasil aparece em primeiro lugar em potencial de recursos naturais entre 136 países, mas perde competitividade em quase todos os demais 13 itens listados; figurando, no ranking geral na 27ª posição. Na avaliação do WEF, o país também possui recursos culturais muito atrativos, como patrimônios e eventos, mas peca em diversos outros quesitos.
Quando comparado com anos anteriores analisados, houve piora no ambiente de negócios (129º) – item que abrange eficiência legal e impostos –, na segurança (106º), na mão de obra (93º), na infraestrutura terrestre e portuária (112º), na saúde e higiene (70º) e na sustentabilidade (66º).
Turismo no Brasil: turismo, imagem nacional, investimento e divulgação
A Embratur – braço do Ministério do Turismo para promover o Brasil no exterior – foi criada em 1966 e cuida de tudo que diz respeito a turismo no país, desde capacitação de pessoal, a obras e divulgação. A promoção internacional do país é realizada através da participação em feiras, financiamento da vinda de jornalistas estrangeiros, campanhas de marketing, e produção de conteúdo escrito e audiovisual.
No entanto, embora a Embratur tenha boa vontade, sua verba, já muito pequena, continua caindo. Desde 2011, o orçamento da Embratur encolheu 37%, caindo de R$ 188,4 milhões a R$ 117,3 milhões em 2017, e o órgão possui apenas 13 escritórios no exterior – na Alemanha, Argentina, Espanha, França, Holanda, Inglaterra, Itália, Japão, Peru, Portugal e três nos Estados Unidos.
A ausência de investimentos no setor é percebida, por exemplo, diante dos recentes eventos esportivos mundiais – Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016 – que o país sediou e que deveriam ter impactos positivos gigantescos no turismo do Brasil. Porém, não foi o que aconteceu; o efeito foi apenas pontual.
O país não investiu em sua própria promoção, nem em infraestrutura e mão de obra; apenas esperou que os jogos agissem por si só. Para as Olimpíadas, por exemplo, a ação mais poderosa implementada pelo governo para fomentar o turismo no Brasil foi a isenção de visto para norte-americanos, australianos, canadenses e japoneses entre 1º de junho e 18 de setembro de 2017 – a partir de janeiro de 2018, o Brasil passou a facilitar a emissão de visto de turismo para cidadãos deste países através da internet, com o intuito de atrair mais turistas.
A imagem do país no exterior agrava ainda mais a situação do turismo no Brasil. Fora daqui, os noticiários mostram a violência, a crise econômica e desastres ambientais ao invés de apresentar os diversos atrativos que possuímos. Esta imagem negativa do país, aliada à fraca divulgação internacional, trava, ainda mais, a vinda de estrangeiros interessados no turismo no Brasil.
A falta de investimento não se restringe apenas à falta de divulgação do país. As agências de turismo especializadas em destinos brasileiros não possuem sites em inglês, diversos hotéis e pousadas não estão presentes em ferramentas de reservas globais, como o Booking.com, e de avaliação, como o Tripadvisor, os horários de ônibus e balsas não constam na internet, etc.
Além disso, a sinalização monoglota nas ruas e no transporte público, bem como uma mão de obra que não fala outro idioma que não o português – como garçons, taxistas e guias – também são fatores impeditivos ao turismo no Brasil. Embora falar o inglês não seja imprescindível para o desenvolvimento do turismo (grandes destinos como Itália, China e Tailândia também têm problemas com o idioma), a maior parte dos profissionais de serviços não possui noções básicas do idioma.
Esta falta de investimento reflete no despreparo geral do Brasil em receber visitantes estrangeiros.
A infraestrutura é também fator fundamental nesta equação. Dos 1,7 milhão de quilômetros de nossas estradas, apenas pouco mais de 10% são asfaltadas. Além disso, a ausência de malha ferroviária agrava ainda mais a logística daqueles que procuram o país a turismo, uma vez que voar no Brasil é caro.
Este problema na infraestrutura afeta, diretamente, os parques nacionais – destinos bastante comuns em outros países. Os nossos 71 parques nacionais receberam, em 2015, 7,1 milhões de visitantes (2,9 milhões apenas no Parque Nacional da Tijuca, na área urbana do Rio de Janeiro, e, por isso, de fácil acesso). Os 59 parques nacionais dos Estados Unidos, por exemplo, receberam 307 milhões de turistas no mesmo período.
No país, os parques são encarados como unidades de proteção ambiental e não como atrações turísticas. Por isso possuem poucas trilhas sinalizadas, guias, hotéis e transportes a preços competitivos; fatores que interferem no desenvolvimento do turismo no Brasil. Além disso, a grande burocracia e o pouco incentivo para abrir negócios no país também atrapalham – no último relatório do Banco Mundial, o país apareceu em 116º na lista de países nos quais é mais fácil abrir e conduzir uma empresa.
O setor de cruzeiros também é bastante influenciado, não apenas pela grande burocracia que afeta o turismo no Brasil, mas também pelos altos impostos. Em 2010, existiam 20 navios circulando pela costa brasileira. Em 2015, este número caiu pela metade. Isto porque quase todos os processos relativos à realização de um cruzeiro são caros e complicados. Segundo Mario Ferraz, presidente da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos, operar em portos no país é 20 vezes mais caro que em outros destinos.
O país é extremamente fechado aos investimentos internacionais e isso, certamente, afeta o turismo no Brasil. Segundo o Índice de Abertura de Mercados da Câmara de Comércio Internacional (CCI), publicado em 2015, o Brasil é o 70º em um ranking de 75 países que classifica as nações de acordo com o grau de abertura comercial – do maior para o menor.
O setor de turismo no Brasil possui ainda um imenso potencial a ser explorado, no entanto, mudanças são necessárias para que consigamos atrair cada vez mais turistas estrangeiros ao país e fomentar o setor, gerando renda e empregos.
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Fontes: Folha de São Paulo; Superinteressante; O Globo, G1; Gazeta do Povo; BBC