Falamos recentemente sobre as religiões da China. Hoje, vamos nos aprofundar na filosofia da religião taoista. Desse modo, você pode conhecer melhor a cultura do Gigante Asiático e se aprofundar mais nesse grandioso país. Mas não só isso, entendendo melhor o taoismo você pode compreender melhor a si mesmo e também diversas manifestações práticas e culturais que influenciam até mesmo o que fazemos aqui no Ocidente. Continue lendo e saiba mais abaixo!
O significado e o desenvolvimento do Taoismo
Taoismo (ou Daoismo) é uma filosofia tradicional oriental. Nasceu nas margens do rio Huang Ho (Rio Amarelo) na China. Essa filosofia aborda o plano espiritual, o cultural, os rituais religiosos, a filosofia e a ciência como entes interligados como se fossem uma mesma coisa. Todos se referem à mesma coisa.
A origem do taoismo enquanto teoria é incerta. Elementos de sua filosofia são encontrados em escavações que remetem à pré-história. Tradicionalmente, suas filosofias surgiram da observação da natureza e suas diferentes interações – Seja entre os animais, entre os demais elementos sem vida com os que têm vida (como os ventos que batem nas árvores, o sol nascendo através das montanhas), etc.
Antes de qualquer desenvolvimento de textos e filosofias, a tradição taoista era xamânica. Baseava-se na arte da “divinação” e sua medicina era baseada na ideia de pecado e confissão.
A onda de desenvolvimento filosófico do taoismo se deu pelo surgimento de escolas de pensamentos. Entretanto, todas concordavam com seu significado essencial. Sendo o taoismo inexplicável, é compreendido como o “caminho para o absoluto“. Contém todas as coisas existentes e não existentes. É o grande e o pequeno, mas não consiste numa deidade personificada. É um grande princípio, uma consciência cósmica.
O registro antigo mais relevante acerca do taoismo hoje é o I Ching (o livro das mutações). Esta obra traz à tona a base teórica do taoismo, que é definida pelo conceito de Yin e Yang. Entretanto, a data da primeira versão do I Ching “se perdeu no tempo” e é destinada a Fu Xi. Fu Xi é um personagem da mitologia chinesa e é tido como um imperador que reinou durante meados do século 29 antes de Cristo. Ele foi o primeiro dos Três Augustos (líderes mitológicos da China durante o período aproximado de 2850 a.C. a 2205 a.C., tempo anterior à Dinastia Xia). Foi atribuída a ele a invenção da escrita, pescaria e caça. Ele é considerado o fundador na nação chinesa e é comparado a um semi-Deus.
Conta a lenda que enquanto Fu Xi caminhava às margens do Rio Amarelo, um dragão emergiu das águas trazendo consigo um quadro octogonal, que continha oito trigramas, e o entregou ao imperador. Esses trigramas tinham em si o “princípio de todas as coisas” presentes no taoismo. O taoismo e seus oito princípios são concebidos através de combinações entre yin e yang.
Outros grandes pensadores acrescentaram comentários e interpretações ao conceito fundamental do taoismo: Rei (ou Conde) Wen, seu filho Duque de Zhou e Confúcio. Confúcio trouxe diversas contribuições para esse campo, mas uma que foi bastante relevante é conhecida como filosofia das “Dez Asas”. Uma espécie de filosofia nova em torno do livro. O I Ching introduziu o conceito dos Cinco Elementos (ou movimentos), também foi e ainda é utilizada como oráculo através de suas 64 figuras de hexagramas que representam tudo que existe. A função oracular do livro é tradicionalmente feita através da manipulação de 49 varetas, além de uma adicional que fica de fora do jogo. Uma preparação emocional e a formulação precisa das perguntas. A manipulação das varetas resulta em yin ou yang e é feita seis vezes para, assim, resultar em um dos 64 hexagramas. Sendo assim, a resposta é interpretada segundo o hexagrama obtido. De acordo com a teoria, o I Ching nunca erra; quem pode errar é o participante que não meditar e refletir antes de buscar um hexagrama.
Outro grande imperador que contribuiu para elaborar o I Ching foi o Imperador Amarelo. Sua parte do texto descreve conversas com seus ministros sobre medicina, alimentação, costumes, desenvolvimento, etc. sob o prisma taoista.
Outro registro muito famoso sobre taoismo é o chamado Tao-Te King, de Lao Zi. Consiste em 64 poemas do autor sobre o taoismo e sua filosofia. O livro de Lao Zi atingiu uma relevância tão grande que, com fins de simplificação, muitos o consideram como o fundador do taoismo ou dos conceitos da filosofia que hoje continuam em vigor. O texto aborda não só a soberania do tao e a busca da harmonia entre yin e yang, mas também conceitos sobre política e sociedade. Chuang Tzu também trouxe grandes contribuições para o taoismo – uma obra famosa dele, traduzida para o português, é o livro Ensinamentos Essenciais.
A Escola do Yin-Yang
A primeira e mais importante escola taoista foi a do Yin-Yang, que supõe que existem duas grandes forças fundamentais, opostas, mas complementares, que agem na criação e manutenção de tudo que existe. O conceito é representado num símbolo chamado Tai Chi (que não é igual ao Tai Chi Chuan). Nele, o tao é representado pela linha que o circunda. Dessa forma, do tao surgem duas energias. Do tao surge o “um”, aquele que está consciente, de cuja consciência surge o conceito do “dois”, que é o yin e o yang, no qual o “três” está implícito. Yin corresponde à terra, Yang ao céu e o Homem (enquanto representante da Humanidade) fica entre ambos, nesse contexto de definição conceitual. Juntos, esses três entes produzem a totalidade como conhecemos, estando presentes em todas as coisas.
O Yin é o princípio feminino, corresponde à escuridão, à lua, à sombra, ao descanso, à terra, ao plano, ao espaço, etc. e é a parte preta do símbolo Tai Chi. Já o Yang é o princípio masculino, que identifica-se com luminosidade, sol, brilho, atividade, céu, redondo, tempo e é a parte branca do símbolo.
As duas energias se encontram no Homem e atuam na manutenção da vida, sendo que ele absorve o Yang através da respiração e o Yin pelos alimentos que consome. Assim, não possui qualidades boas ou ruins. Pelo contrário, essas duas polaridades estão presentes em um único princípio, que é o tao, que define a existência de tudo que se envolve com o Homem e que o constitui como Ser. Porque, embora opostos, Yin e Yang se complementam para formar uma unidade inseparável e é por isso que dentro do Yin há a “semente” do Yang e dentro do Yang há a semente do Ying (representados respectivamente pelo pequeno círculo branco dentro do polo Yin e pelo pequeno círculo preto dentro do polo Yang). Por isso, graças a essa “semente”, o Yin pode se transformar em Yang e o Yang em Yin, futuramente.
Escola dos Cinco Elementos
A segunda escola mais conhecida do taoismo é a dos Cinco Elementos. Ela também está profundamente relacionada com o conceito de Yin e Yang. Os cinco elementos, que são Madeira, Metal, Água, Terra e Fogo, representam as atividades das forças Yin e Yang quando estão prestes a alternar, manifestas nos ciclos de mudanças na natureza e que regulam a vida na terra.
Também chamados de Wu Yun, os cinco elementos definem os vários estágios de transformação que acontecem nas mudanças de estações: crescimento e declínio; mudanças do clima; sons e sabores; emoções na Psicologia humana. Cada energia está associada a um elemento, cuja função parece-se com a função destas energias, daí terem o seu nome. Os elementos simbolizam atividades de energia com as quais estão associados. As manifestações da força Yin e Yang na terra, as 5 fases de energia representam vários estágios de vazio e cheio, pelos quais essas energias passam ao equilibrar um determinado sistema energético.
As cinco fases da energia ou os elementos Madeira, Metal, Água, Terra e Fogo aparecem na sua natureza específica, durante as transformações da força Yang e da sua união com a força Yin. Estas fases de energia estão em constante mudança de atividade, nutrindo e controlando uma à outra para que haja uma constante nos movimentos de transformação do vazio para o cheio e do cheio para o vazio.
A teoria dos cinco elementos é um pilar essencial para a acupuntura, na prática. É uma filosofia que propiciou uma aplicação prática na Medicina Tradicional Chinesa e que possibilitou resultados efêmeros.
História do Taoismo na China
O taoismo se espalhou pela China a partir do Rio Amarelo e foi considerado como religião oficial por muitos imperadores antigos. Séculos mais tarde, sacerdotes taoistas se espalharam pelo mundo para protestar contra as opressões causadas pelas organizações sociais essenciais e políticas do Homem. Esse isolamento fez com que o taoismo se tornasse um mistério. Os ensinamentos do taoismo eram passados somente aos “silenciados” (participantes secretos de organizações baseadas na doutrina).
Apenas posteriormente o taoismo passou a se abrir mais para outras pessoas e os rituais de segredos foram encerrados. Acima de todos os rituais mais conhecidos hoje está o do Ano Novo Lunar.
O taoismo enquanto religião evoluiu de formas diferentes em cada região geográfica, o que ocasionou a formação de diversos ramos. Entretanto, todas chegam à mesma conclusão, que indica que os seres humanos devem se relacionar com a natureza de forma harmoniosa. Há cinco grandes vertentes do taoismo:
- a primeira delas se chama Dan Ting, que significa literalmente Caldeirão e Elixir; é a que nós chamamos no Ocidente de A Escola da Alquimia;
- a segunda se chama Fu Lu, Fu que literalmente significa Correspondência e Lu, ordenar, ou seja, A Escola da Correspondência e da Ordenação refere-se às Escola Ritualística e da Lei Cósmica;
- a terceira se chama Jin Dien, que literalmente significa Textos Clássicos; são escolas que enfatizam mais estudos clássicos, podem ser chamadas de Escolas Filosóficas ou Escolas de Estudos filosóficos do Taoismo;
- a quarta se chama Ji San, que significa Acumulação da Bondade, aplica os conhecimentos taoistas em benefício da sociedade, da pessoa, da vida; podemos dizer que é a escola taoista voltada para as práticas taoistas na vida cotidiana;
- e a última, se chama Dzan Yen, que significa Oráculos e Experiência, ou seja, I Ching, Astrologia, Artes Marciais, Acupuntura, incluindo conhecimentos de cura através da ervas da medicina taoista e diversos trabalhos energéticos.
Tradição Taoista
A tradição se define pelo caminho da simplicidade e da integridade, mesmo em tempos de desordem. A teoria tem um tom de “ascetismo” ao afirmar que a civilização tende espontaneamente a nos afastar do tao, pois nos afasta da natureza. Também, a tradição propõe a transcendência da vida.
Segundo os taoistas, há três métodos para chegar ao tao: contemplando o Universo, meditando e tendo uma postura correta para encarar a vida. Esse último método, definido pela “inação” não enquanto falta de ação, mas, sim, pela proposta de agir sem artificialismos, sem apego à ação em si mesma. Assim, não deve-se interferir nos acontecimentos, pois o tempo, afinal, os faz passar, pois nada é estático.
Os taoistas também seguem três princípios fundamentais: Compaixão, moderação e humildade. Essas são as três joias ou atributos com as quais os taoistas observam para ter uma vida boa e que vale a pena. As primeiras três joias (algumas vezes conhecidas como tesouros) são literalmente compaixão, ternura, amor, misericórdia, gentileza ou benevolência. Também é um termo clássico chinês para mãe. A segunda é jian, literalmente moderação, economia, comedimento, ser regrado. O terceiro tesouro é uma frase de seis caracteres chineses, ao invés de uma única palavra: Bugan wei tianxia xian. É traduzida como humildade, mas realmente significa mais que isso. De acordo com a sabedoria taoista é uma forma de evitar morte prematura. Estar na frente do mundo é se expor, tornar-se vulnerável às forças destrutivas do mundo, enquanto que permanecer para trás e ser humilde é se permitir tempo para colher plenamente os frutos.
Os taoistas, quanto à prática, adotam o exorcismo, aderem a práticas para atingir o êxtase, têm técnicas para aumentar a longevidade. Essa busca pela longevidade se dá pela ideia de que “quanto mais se vive, mais se aprende e mais se ensina”, o que representa uma valorização cultural dos idosos. Os taoistas desenvolveram técnicas de cura, circulação, higiene sexual e meditação. Esses estudos, pelo valor medicinal (em sentido majoritariamente profilático) e saudável que possuem, foram adotados no Ocidente.
Medicina e Artes Marciais
O taoismo foi essencial para o desenvolvimento da Medicina Tradicional Chinesa (vide a Acupuntura) e de algumas artes marciais, como o Kung Fu e o Tai-Chi-Chuan.
Na Medicina Tradicional Chinesa, o taoismo se manifesta através de três conceitos adicionais: energia (Qi), essência vital (Jing) e “espírito” ou “consciência superior” (Shen).
O Kung Fu e o Tai-Chi-Chuan nasceram de conclusões advindas da observação dos movimentos da natureza, inclusive dos animais (por isso há sete estilos de Kung Fu baseados nos movimentos de diferentes animais), trazendo a harmonia das diferentes energias internas.
Ainda podemos falar da Alquimia e da Astrologia chinesas, que também são fortemente inspiradas no taoismo.
Templos taoistas
O Templo do Céu é um complexo de templos taoistas em Pequim. É um Patrimônio da Humanidade, de acordo com a UNESCO. No complexo há a Sala de Oração pelas Boas Colheitas, o Altar Circular e a Abóboda Imperial Celestial.
Em Xian, há um templo dedicado aos chamados Seres Iluminados, que seriam oito figuras mitológicas que atingiram uma compreensão total da realidade por via do taoismo e que, assim, transformaram-se em imortais.
A montanha Huashan é composta por cinco picos, fica numa cadeia de montanhas imigrantes, e foi o local eleito para o refúgio de taoistas em seu período de isolamento, onde ficavam dentro de cavernas dessas montanhas. Eles ficavam meditando no tao. É bastante difícil chegar até os templos.
Há também o Templo das Nuvens Brancas. Possui seis metros quadrados e está localizado dentro de uma área maior que tem dez metros quadrados. É o templo principal da ceita Quan Zhen e é o local onde a Associação Taoista da China e as universidades taoistas da China ficam localizadas.
Atualmente, assim como o budismo e o confucionismo, o taoismo faz parte das tradições e do pensamento popular da China.
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Por Rafael Queiroz
Fontes: Conhecimentos da Humanidade, Youtube, I Ching, Sociedade Taoista, Islam Religion, Medicina Chinesa PT, Blog da Filosofia Taoista