Já é sabido que o grande dragão asiático não para de crescer em todos os sentidos, não é mesmo? Pois então os avanços tecnológicos chineses, nesse contexto, têm um grande lugar reservado que é bastante relevante, para não dizer determinante. Confira o texto e entenda melhor a questão.

 

Avanços tecnológicos chineses

 

Avanços tecnológicos chineses: fruto de uma cultura

Os chineses têm, enraizadas na cultura popular, a tradição milenar do budismo e a do confucionismo, somadas ao caráter da ideologia comunista que guia os princípios de governança do Estado, os quais caracterizam a mentalidade política e social da população em geral.

Esses três itens inerentes à cultura chinesa resultam na adoção de ideais moralistas e coletivistas, e, por isso, os chineses realizam, na área científica, seus experimentos com uma visão de futuro, não individual, mas em prol do bem público, do “bem-estar do próximo”, e mantêm uma expansão calma, em pequenos passos, graduais, e com uma diretriz segura.

Ao mesmo tempo que a religião budista e o sistema filosófico de Confúcio estimulam a ética, a harmonia e a moral nos chineses, a direção marxista do governo busca um crescimento dos meios de produção para depois consolidar a revolução proposta a princípio pelo socialismo de mercado, embora haja contestações dessa expectativa que, de fato, constitui os fundamentos teóricos do governo conduzido pelo Partido Comunista Chinês.

Todavia, a ciência na China é provida de uma filosofia própria, os frutos dos valores dela correspondem a posturas moralistas e comunitárias que buscam sempre considerar o bem-estar do próximo, atender os interesses da maioria das pessoas e superar o individualismo, constituindo um significado para cada ação enquadrada nos avanços tecnológicos chineses e dando razões para que eles ocorram de formas predeterminadas e correspondentes à ideologia nacional.

 

Um método peculiar de início de industrialização: estudar para depois inovar

 

Avanços tecnológicos chineses
A engenharia reversa possibilitou os primeiros avanços tecnológicos chineses

 

Analisando o cenário tecnológico da segunda maior economia do mundo, pode-se considerar, para explicar a trajetória dos avanços tecnológicos chineses, que, inicialmente, os cientistas de lá não buscavam inovar, mas, sim, apropriar-se do conhecimento de diversas origens através de contratos, acordos e engenharia reversa (processo de análise de estruturas de hardwares e softwares por “desmontagem” e destrinchamento), para depois desenvolver seus produtos.

Baseados nesse hábito estratégico, os diversos pesquisadores do país, que majoritariamente possuem pós-graduações e doutorados em países estrangeiros, desenvolviam os equipamentos que exploravam, elevando-os a níveis superiores e maximizando seus desempenhos para, assim, possibilitar a reprodução de versões melhoradas desses produtos nas indústrias nacionais. Essa abordagem de transformação e de aprimoramento é o que caracteriza crucialmente os primeiros métodos de avanços tecnológicos chineses e a nacionalização de seus acessórios, recursos, máquinas etc., inerentes ao setor secundário da economia.

No entanto, essa industrialização, através da engenharia reversa, marca apenas uma fase dos avanços tecnológicos chineses. A efemeridade dessa fase é confirmada pelos fundamentos éticos e comunitários das áreas de ciência e tecnologia. Um resultado destes é a proposição de políticas públicas que têm atributos orientados pelo enfrentamento dos maiores desafios sociais da nação por meio de inovações (exemplos: segurança alimentar, saúde pública, envelhecimento e prevenção de desastres).

Com a consolidação estatal da exigência de adaptação científica à realidade cultural e territorial da nação para atender às necessidades humanas, os pesquisadores são, inevitavelmente, levados à busca pela inovação e pela originalidade. A China, devido ao seu caráter que prioriza o desenvolvimento social, vem impulsionando processos de inovação inclusiva no seu território, que são produzidas por camadas da população de baixa renda.

Pode-se ressaltar, nesse sentido, o Programa Spark, que promove o desenvolvimento agropecuário e rural através do acesso a novas tecnologias e do fornecimento de treinamentos para utilizá-las de forma adequada, bem como o Programa de Ciência e Tecnologia para o Bem-estar Público, que fomenta a comercialização de tecnologias que possam beneficiar o desenvolvimento social, ambos dirigidos pelo Ministério da Ciência e Tecnologia da China.

Tais políticas de inclusão podem trazer um impacto positivo na economia e na sociedade chinesas, no sentido do surgimento de uma grande quantidade de consumidores e de profissionais cada vez mais qualificados e interessados em inovar. A iniciativa, marcada pela calma e pela perspectiva a longo prazo dos chineses, confirma que, de fato, os métodos de engenharia reversa já têm um final previsto e que abrem portas para uma nova era de originalidade e criatividade.

 

A história dos avanços tecnológicos chineses: ontem e hoje

 

Desde 1978, a China vem desenvolvendo uma série de reformas de grande impacto na área de ciência e tecnologia (C&T), os quais têm melhorado tanto a educação superior como as atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no país, principalmente através de planos do governo. Em relação ao domínio tecnológico chinês, essa estratégia de desenvolvimento, mencionada no item anterior, decaiu após a crise econômica de 2008. Nesse momento, o admirável crescimento econômico da China, refletido em altas e crescentes taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), sofreu uma reviravolta que impactou negativamente sua economia baseada em uma industrialização centrada em engenharia reversa e aprimoramento de tecnologias de países estrangeiros desenvolvidos.

Pressionados, os chineses buscaram iniciar, finalmente, a inovação através da construção de infraestruturas próprias e, também, da melhoria da competitividade entre suas instituições de pesquisa. Assim, os avanços tecnológicos chineses começaram a ter vínculos mais fortes com a economia, e o caminho da inovação está sendo percorrido através de P&D e de parcerias internacionais promovidas pelas empresas chinesas.

Nesse contexto de mudanças quanto à forma de lidar com a industrialização e com a tecnologia, a China estabeleceu duas políticas de desenvolvimento de ciência e tecnologia: o Plano Quinquenal (2011-2015) e o Plano Nacional (2006-2020). O Plano Quinquenal levou um total de US$ 1,7 trilhão a vários setores tecnológicos bastante estratégicos para a economia (entre os quais: energia renovável, biotecnologia, tecnologias eficientes e ecológicas, carros elétricos e nova geração de Tecnologia da Informação). Já o Plano Nacional, de médio e longo prazos, visa enfrentar o que talvez seja o maior desafio dos avanços tecnológicos chineses, que é melhorar a capacidade de inovação do setor.

Como resultado dessas políticas direcionadas ao desenvolvimento científico, observa-se um grande crescimento dos gastos com pesquisa e desenvolvimento, em que a China passou de um pouco mais de US$ 41 bilhões de investimentos no ano de 2000 para mais de US$ 344 bilhões em 2014, um acréscimo de quase oito vezes no período. Ao observar os últimos anos, nesse quesito, a China já ultrapassou o conjunto de gastos da União Europeia (28 países) e, caso mantenham-se constantes as tendências de crescimento de investimentos da China e dos EUA, os chineses devem ultrapassar os norte-americanos por volta de 2019. Os dados são da Organização Para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

 

A China tende a se tornar em breve o país que mais investe em pesquisa e desenvolvimento

 

Além dos dados divulgados pela OCDE, uma recente pesquisa da empresa internacional de contabilidade KPMG chegou à mesma conclusão: a China tem, junto com os Estados Unidos, os maiores potenciais de inovação tecnológica do mundo. O estudo foi feito baseado em dados de mais de 800 líderes mundiais tecnológicos e, entre eles, constam empreendedores de startups e executivos da Fortune 500 (uma classificação das 500 maiores corporações em todo o mundo – a lista é compilada e publicada anualmente pela revista Fortune).

A edição de 2017 refletiu uma leve melhora para a China, com 25% dos entrevistados acreditando que o país pode ser um líder em tecnologias disruptivas, ante 23% em 2016. Quanto aos Estados Unidos, seus resultados caíram de 29% para 26%, se mantendo, no entanto, na liderança, por apenas 1% e tendendo a serem ultrapassados no ano que vem, caso não façam nada para alterar esse ritmo e a China continue crescendo. E é exatamente o que está acontecendo: a China continua conseguindo rápidos avanços, na medida em que supera a condição de “dependente em manufatura” e transforma-se em “potência em inovação”, segundo a pesquisa.

A análise também apontou que, com o uso de tecnologias revolucionárias, as companhias chinesas estão avançando a passos largos devido às novas oportunidades comerciais resultantes. Os líderes empresariais chineses como Jack Ma, do Alibaba, agora são globalmente conhecidos e respeitados. Por fim, o estudo da KPMG também aponta que nos grandes centros de inovação tecnológica do mundo, Shanghai e Pequim estão inseridas ao lado do Vale do Silício, de Nova Iorque e de Tóquio.

 

O que o governo chinês tem a dizer a respeito da industrialização por inovação?

 

Avanços tecnológicos chineses
O presidente chinês e secretário geral, Xi Jinping, proferindo um discurso

 

No ano passado, 2016, o presidente e o secretário-geral do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping, discursou acerca dos avanços tecnológicos chineses na Conferência Nacional de Inovação em Ciência e Tecnologia, na Conferência Acadêmica da Academia Chinesa de Ciências e da Academia de Engenharia e no Nono Congresso Nacional da Associação Chinesa de Ciência e Tecnologia. O presidente disse que a China precisa trabalhar no sentido de se tornar uma força internacional de inovação em ciência e tecnologia dentro dos próximos 40 anos. Em um dos discursos proferidos, Xi Jinping afirmou:

“Para uma China forte, para um povo chinês com qualidade de vida, é preciso um grande vigor no campo da ciência e tecnologia (…) com novos tempos vêm novas circunstâncias e novas tarefas, obrigando-nos a ter, no campo da inovação em ciência e tecnologia, novos conceitos, novos planos e novas estratégias, para assim conseguirmos alcançar os nossos dois objetivos para o centenário e realizar o renascimento do sonho chinês: acelerar a inovação em todos os setores e aproveitar a oportunidade decisiva de competitividade a nível global. É este o nosso ponto de partida para a construção de um país forte na ciência e na tecnologia”.

O chefe de Estado reconhece que tornou-se essencial, contudo, recorrer à inovação para criar um novo motor de crescimento e continuar melhorando a qualidade e a eficácia do crescimento econômico. Diante desse cenário, os cientistas chineses necessitam de um espaço livre, e o presidente Xi Jinping pareceu perceber isso, pois já se referiu certas vezes à necessidade de respeitar a inspiração momentânea, a arbitrariedade e o percurso incerto na investigação científica e tecnológica para permitir aos cientistas a livre imaginação e a proposição de grandes planos cautelosos e audaciosos.

Devem ser atribuídas funções e poderes aos profissionais deste campo: maior poder de decisão quanto ao percurso tecnológico, maior controle sobre os fundos e uma maior autoridade sobre a mobilização de recursos. É preciso dar liberdade aos cientistas para que possam aprimorar seus trabalhos, reduzindo interferências comerciais e institucionais. Essa decisão faz parte da nova fase de industrialização marcada pela inovação e pelo abandono da engenharia reversa.

 

Avanços tecnológicos chineses recentes e marcantes

Para encerrar o artigo, segue abaixo uma lista com algumas inovações ou melhorias tecnológicas e científicas bastante consideráveis que foram realizadas nos últimos anos na China:

  • Um grupo de estudantes chineses inventou um sistema para aumentar a geração de eletricidade de pequenas e médias estações hidrelétricas durante a temporada de seca. A invenção corrige a situação atual na qual a produção de eletricidade é diretamente proporcional ao fluxo nos rios, permitindo que as pequenas e médias usinas hidrelétricas mantenham a produção em todas as temporadas. Espera-se que, ao melhorar a capacidade geradora, se reduza o número de usinas hidrelétricas necessárias no futuro, o que então mitigará seu efeito no meio ambiente.
  • O dragão asiático está desenvolvendo o LiFi, um novo tipo de conexão de internet muito melhor do que o WiFi – Trata-se de uma conexão leve, que usa luz visível de LED para transferir dados com maior velocidade que o WiFi, que se baseia em ondas de rádio. A conexão será baseada em pontos de carbono emissivos a todas as cores (F-CDs, na sigla em inglês) que permitem desenvolver um canal de comunicação sem fio mais rápido. Um teste realizado em 2015 pelo Ministério do governo chinês mostrou que o LiFi pode atingir a velocidade de 50 gigabytes por segundo (com ele, um download de filme, por exemplo, pode ser feito em apenas 0,3 segundo). Entretanto, estipula-se que o LiFi só estará disponível daqui seis anos.
  • China começou neste ano a construção de uma gigantesca torre de transmissão elétrica que deverá ser a mais alta do mundo. Com 380 metros, a altura da torre será quatro vezes a do Big Ben, em Londres. Ela baterá o recorde mundial de torre elétrica mais alta, que atualmente é possuído pela torre de Damaoshan, também em Zhoushan, com uma altura de 370 metros.
  • China vai proibir a venda de carros a combustão e permitir só a de elétricos, seguindo o ritmo dos países mais desenvolvidos do mundo.
  • China conquistou mercado mundial de serviços nucleares com novos avanços tecnológicos – Exportou à União Europeia equipamentos energéticos de sua própria fabricação para usinas nucleares.
  • Lixeiras inteligentes apareceram nas cidades chinesas – São limpas para sentar, podem recarregar celulares com energia solar, algumas foram colocadas junto aos pontos de ônibus, têm funções como desinfecção à luz ultravioleta, WiFi, telas com mapas eletrônicos e, se forem de um modelo específico, podem ter tela de LED de energia solar e roteador WiFi.
  • Pesquisadores chineses desenvolveram uma maneira de transformar resíduo de couro em fertilizante e outros produtos, resolvendo um problema que tem incomodado empresas do setor há anos.
  • Há planos para abrir, na cidade de Shenzhen, no sul da China (conhecida pela alta concentração de companhias de alta tecnologia), duas rotas de ônibus de condução autônoma, onde quatro ônibus inteligentes serão postos em operação.
  • Pesquisadores desenvolveram um material que pode absorver os íons do metal pesado de fertilizantes, diminuindo a poluição ambiental.
  • Sonda chinesa para Marte levará 13 tipos de carga útil para a missão de 2020 – A sonda será lançada por um foguete transportador do centro de lançamento em uma cidade no sul do país e conterá, entre as treze cargas, seis rovers (“carros espaciais” projetados para moverem-se em superfícies de outros planetas e corpos celestes). A carga será usada para coletar dados sobre o meio ambiente, morfologia, estrutura superficial e atmosfera de Marte.
  • Foi inaugurado o primeiro curso chinês de Inteligência artificialO governo da China anunciou o objetivo de se tornar um líder global em Inteligência Artificial (IA) em pouco mais de uma década.
  • Pesquisadores chineses desenvolveram uma nova tecnologia capaz de reconhecer uma pessoa a 50 metros de distância apenas pela sua postura.
  • A China inaugurou o trem-bala “Fuxing”, o primeiro da nova geração, na ferrovia de alta velocidade Pequim-Shanghai, reduzindo o tempo de viagem da rota de 1.250 quilômetros para apenas quatro horas e trinta minutos – Os trens realizarão sete viagens de ida e volta por dia. Os trens-bala da classe Fuxing serão os mais rápidos do mundo para uso comercial.
  • Os tradicionais “palitos” para a comida chinesa viraram sensores para detectar se está tudo certo com a comida – Depois de sofrer um problema com óleos contaminados, os chineses resolveram usar a Internet das Coisas à serviço da saúde. É possível detectar também as calorias, a acidez e até a temperatura dos alimentos.

 

E aí? Já sabia como andam os grandes avanços tecnológicos chineses? Pois é, tudo isso é realmente surpreendente. Não bastassem os desenvolvimentos de setores estratégicos como o acadêmico, o de esportes, o de audiovisual, o de poder militar etc., esse é mais um campo que não para de crescer dentro do gigante asiático e que confirma a tendência do país a se tornar, em pouco tempo, a maior economia do planeta.

Continue acompanhando a trajetória da China (de perto, de preferência) e perceba como o mundo não para de mudar a favor desta grandiosa nação.

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Por Rafael Queiroz

 

Fontes: Jornal GGN, Xingua Net, Plataforma Mamacau, Panorama Internacional FEE, Sputnik, Portuguese.People.CN, StartSe